quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dias

Há dias em que o nevoeiro nos invade o peito
tomando de assalto certezas e sonhos...
Turvando-nos a visão sem réstia de preconceito
e raptando com arte tudo aquilo que somos.
Perdemo-nos em amarguras cegas, surdas e mudas.
Rezamos terços, tentamos mezinhas e insanas promessas.
Rogamos, com fervor, mil e uma diabruras
ao mundo, aos santos, aos deuses e às musas.
(Sem pensar, sem medo ou pressas!)
Há dias em que a vida se torna assustadoramente cinzenta,
afastando a esperança de dias soalheiros por chegar...
O nosso eu vira miragem desfocada e pardacenta,
no vaivém das ondas que transportam o eco do nosso chorar.
Há momentos nesses dias que amordaçam a lucidez do pensamento,
encurralando-nos, à socapa, no labirinto camuflado da estupidez.
Perdemo-nos da luz, no imperceptível tic tac do tempo,
por culpa de erros cometidos a conselho da nossa insensatez.

Cansaço

Depois da escalada para o monte da verdade resolvi decifrar o enigma que caracteriza o meu ser. Aconselhei-me junto de alguns seres superiores que me ajudaram a fazer um raio x perfeito à coluna dorso lombar da minha alma. Imagem suficientemente nítida de uma assolapada virose que contraí ainda no ventre da minha mãe. Por vezes questiono-me acerca dos efeitos secundários associados a este meu problemazito existencial... serão esses efeitos maioritariamente benignos ou malignos? A verdade é que, analisando a olho clínico, nem sempre o diagnóstico deste puzzle eufemista se revela positivo. Há dias... E eu até já confidenciei ao mundo que, por vezes, nada mais sou que um ser meramente mortal. Mas depois também há as outras vezes, aquelas em que bebo da fonte da eternidade e brindo com os outros esta estranheza que é possuir em mim uma nascente que jorra cansaço em forma de palavras e pensamentos de todos os pontos e poros do meu ser. E é nesse intervalo de mim e entre mim mesma que, na avaliação final, afinal, sou feliz.
"O que há em mim é sobretudo cansaço. Não disto nem daquilo, nem sequer de tudo ou de nada: cansaço assim mesmo, ele mesmo, cansaço. (...) Porque eu desejo impossivelmente o possível, porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser". - Fernando Pessoa

Saudade

Saudade é uma seta gélida que nos fere o peito.
Saudade é uma chama cruel que nos devora por dentro.
Saudade é um grito mudo gerado no pretérito perfeito.
Saudade é o nome de um sentimento imperfeito.
Saudade é um sorriso de dor.
Saudade é um parente do Amor.
Saudade é uma imagem sem cor
na tela onde a triste ovelha perdeu o seu pastor...

Ode ao mar

O mar escuta os meus lamentos.
O mar faz-me sonhar.
Afaga todos os meus tormentos
e educa a minha forma de amar.
O mar é um ninho quando a vida me fere as asas
e um bálsamo quando o pensamento agoniza em brasas.
(Shhhhh! Escutem! Quão belo é este mar...)
O seu canto é o meu guia
e as ondas são o meu mapa
sempre que a noite me invade o dia
ou que atingem meu coraçãozinho de lata.
O mar é o meu hino de esperança,
o mar é o sol deste mundo à parte.
Alimenta a minha sede de mudança
e inspira em mim heterónimas centelhas de arte.

Palavras

As palavras são o meu amor perfeito!
Com palavras acordo, com palavras me deito.
Com palavras dou voz a este mundo moribundo que me bate no peito.
Com palavras moldo o meu abrigo, com elas adorno o meu leito.
Com as palavras pinto o mundo inteiro ao meu jeito.
Com palavras questiono, com palavras respondo a preceito.
E é com o poder das palavras que luto contra a malvadez do imperfeito.

O Amor é...

O amor é a presença invisível de um Sol radiante.
O amor é uma partilha de sentimentos constante.
O amor é o mestre e a razão no mundo dos sentidos.
O amor é um elixir mágico de sorrisos.
O amor é um musical feito de experiências que nos embala a alma.
O amor é uma maresia que inspira, fortalece e acalma.
O amor é a pauta onde está escrito este meu canto.
O amor é o meu Norte, o meu abrigo e o meu manto.
O amor é...
O amor és tu, inquestionavelmente, portanto!